terça-feira, 28 de novembro de 2017

Descobrir-se


Muitas vezes me perguntam sobre qual seria o momento certo para procurar um psicólogo. Nessas conversas, em sua maioria informais, busco entender qual a concepção que as pessoas têm do profissional de Psicologia. Você deve imaginar que já me deram diversas definições da minha profissão: para uns o psicólogo é um ouvinte que serve para que seus pacientes possam desabafar e se sentir mais leves; para outros o psicólogo é uma espécie de mago, que tem a receita mágica para a solução de todos os problemas; outros ainda vêem o psicólogo como um grande amigo para quem é possível contar coisas que não se tem coragem de contar para mais ninguém.

Na verdade, o psicólogo não é apenas ouvinte, nem um mago ou amigo. O psicólogo é um profissional dedicado ao estudo e aplicação de uma ciência - a Psicologia - frente às mais diversas demandas que possam surgir. A minha prática profissional, a Psicologia Clínica, é uma das diversas áreas de atuação profissional do psicólogo. Nós, psicólogos clínicos, recebemos as pessoas em nossos consultórios para prestar um serviço profissional diante daquilo que a pessoa deseja trabalhar, oportunizando sempre uma reflexão sobre sua realidade, ampliando sua visão sobre as circusntâncias e sobre si mesma. Ou seja, ajudamos aqueles que nos procuram a descobrir-se e a reordenar suas vidas.

Assim, o momento ideal para procurar um psicólogo não deve ser necessariamente numa ocasião de dificuldade ou de crise. É claro que uma ajuda profissional cairia muito bem nessas situações. Mas o simples fato da pessoa desejar conhecer-se melhor, oportunizando uma ressignificação da sua história já é um grande motivo para recorrer aos serviços profissionais do psicólogo. Acredito muito na capacidade da minha profissão em despertar reflexões valiosas e necessárias, e isso faz do psicólogo um agente importante na promoção do bem estar das pessoas.

Gabriela Neves

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Resiliência e ressignificação da vida


Resiliência é um termo originalmente utilizado na Física, que significa a capacidade de um objeto readiquirir suas propriedades após sofrer alteração em suas características pela ação de um agente externo. Assim, por exemplo, após uma mola sofrer pressão por uma força aplicada sobre ela, rapidamente volta às suas características inciais, então dizemos que a mola é um objeto que possui alta resiliência. A Psicologia faz uso desse conceito para definir a resistência de uma pessoa frente a uma situação adversa, bem como a capacidade de manter-se íntegro no sofrimento e renascer após os momentos difíceis.

O que dá subsídio à capacidade da pessoa desenvolver resiliência é o sentido que ela atribui à própria vida. Ter a vida plena de sentido, com os fatos ressignificados ao redor desses sentidos, produz na pessoa uma habilidade de lidar de forma satisfatória com as situações complicadas. Isso porque uma vida cheia de sentido é capaz de tornar o sofrimento o que ele verdadeiramente é: uma situação a ser superada e provocadora de maturidade; e não um monstro gigante intransponível.

O fato é que o resiliente enfrenta o que precisa ser enfrentado e, após esse período, ressurge mais forte, maduro e inteiro. Não se permite a lamentar indefinidamente a respeito de seus desafios, mas oportuniza, por meio deles, seu crescimento pessoal. São pessoas realmente interessantes, que fazem um grande bem não somente a elas mesmas, mas inspiram todos aqueles ao seu redor. Resiliência não é uma caracterísca que se tem ou não, mas uma atitude possível de ser desenvolvida; basta disposição e coragem de enfrentar-se.

E você, é uma pessoa resiliente?

Gabriela Neves

terça-feira, 14 de novembro de 2017

O sofrimento pode ter sentido na minha vida?


Todos nós somos desafiados pelos momentos de sofrimento. Pode-se dizer que essa é uma das grandes certezas da vida: iremos passar pelo crivo do sofrimento em em alguma ocasião. Viver essa experiência nem sempre será algo pacífico, algumas vezes podemos nos sentir perturbados ou inseguros quando algo não vai bem. Mas também podemos ter um olhar renovado sobre o sofrimento e enxergar nele uma oportunidade. Tudo vai depender da forma que pensamos a respeito do sofrimento e do proveito que conseguimos tirar dessas situações.

Viktor Frankl, um grande teórico da Psicologia, afirma: “quando não é mais possível moldar o destino, então se faz necessário ir ao encontro deste destino com a atitude certa” (O sofrimento de uma vida sem sentido: caminhos para encontrar a razão de viver). Podemos entender o que Frankl quer dizer a partir de uma visão positiva do sofrimento. Quando o sofrimento é inevitável, ou quando “não é mais possível moldar o destino”, cabe a nós abraçá-lo e responder a ele com uma atitude adequada. Em outras palavras, frente à uma situação difícil que não pode ser modificada, é possível escolher como vamos enfrentar esse desafio, e optar por uma atitude equilibrada trará grandes frutos para cada um de nós.

Nossa reação mais fácil perante o sofrimento é a fuga. Logo pensamos em como podemos nos livrar daquilo que nos perturba e tentamos fazer com que isso aconteça a qualquer custo. Essa forma de reagir é natural e justa; se algo não vai bem é sinal de equilíbrio tentar reverter a situação. Porém, nem sempre isso será possível. O grande risco é de que, ao deparar-se com um sofrimento inevitável, cresça em nós a revolta ou a desmotivação, e isso de fato não contribui. Seria muito mais proveitoso se, ao invés disso, pudéssemos buscar compreender como passar por aquele sofrimento de maneira íntegra, sensata e cheia de sentido. Certamente, nos tornaríamos pessoas melhores e seríamos capazes de iluminar também aqueles que estão ao nosso redor.

Gabriela Neves

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Atribuir sentido à vida


Chegamos ao nosso último texto do ciclo de reflexões sobre as atitudes que contribuem para ressignificar a vida, e nele iremos falar sobre a importância de atribuir sentido à própria existência. Isso implica numa disposição pessoal de enxergar os fatos além do que eles parecem ser; é permitir-se olhar a fundo os acontecimentos e as próprias escolhas para encontrar razão de viver e de buscar a felicidade.

Uma vida plena de sentido é uma vida verdadeiramente feliz. Muitas vezes, as pessoas buscam a felicidade em muitos lugares que não oferecem nada além de ilusão e não percebem que encontram apenas um alívio passageiro de suas dores. O grande engano é que acabam acreditando que esse alívio é o que faz com que sejam felizes. Nada pode produzir em nós a felicidade a não ser encontrar o sentido de nossa vida. Quem passa por essa experiência, sente-se pleno mesmo nas situações mais adversas e ameaçadoras, porque encontrou em si algo que tem dimensão muito maior que os sofrimentos que porventura venha a enfrentar.

Somente a própria pessoa é capaz de atribuir sentido à sua vida. Às vezes, é possível contar com a ajuda de alguém próximo, ou até mesmo de um profissional, para sermos auxiliados a resgatar o sentido da vida, mas jamais alguém pode impô-lo. Trata-se de uma escolha livre, pessoal e particular; cada um elege o que dará sentido à sua existência, e a partir daí sua vida irá girar em torno desse sentido. Por isso é importante fazer escolhas acertadas e amadurecidas, pois depositar o sentido da própria vida em castelos de areia seria uma verdadeira fatalidade. Por outro lado, ter como sentido de sua vida algo sólido e forte faz com que sejamos capazes de permanecer íntegros mesmo nas piores circunstâncias. E você, consegue dizer qual o sentido da sua vida hoje?

Gabriela Neves